quarta-feira, 15 de julho de 2009

Vida no Olimpo




Eu, mais o país inteiro estamos indignados com grande parte dos nossos políticos. A cada dia, surgem escândalos novos. Desvio de verbas, gente contratada com um super-salário, mas não trabalha. Gente contratada em segredo, obras super faturadas, salários, diárias, gastos com manutenção de residências e gabinetes absurdas. Nada de concreto acontece.
O povo perde a fé nos ditos representantes dele.

Enquanto isso, no mundo real, as pessoas comuns trabalham como loucas para suprir a vida. É uma vela para um santo num mês e para outro no mês seguinte. Os que estão empregados lutam para se manter no emprego porque há poucas vagas disponíveis. Os pequenos empresários, de sua parte, vivem as voltas com impostos de toda ordem, salário dos funcionários e custos sociais que duplicam o salário do trabalhador e assim vai.

Mesmo assim, a todo custo conseguem manter senadores e deputados com toda a mordomia e pompa possíveis, pois afinal todo o país que se preza precisa ter um legislativo bem folgazão, não pode viver contando migalhas, pois como vai pensar em leis com a barriga vazia? Como vão manter as mansões em Brasília? Contando os trocados? Como vão pagar as diárias das viagens a trabalho? E todos os ccs do gabinete?

Leio na Internet que de 1995 a 2009 o Senado editou 623 atos secretos, ou seja, sem o conhecimento público. Para nomear parentes e aumentar salários.

Seria o melhor dos mundos se pudéssemos imaginar que a crise servirá para fazer uma grande faxina no Senado, mais ou menos como aquela limpeza doméstica, em que se coloca a casa abaixo, para depois devolver-lhe o asseio, a ordem e a dignidade.

17.06.09

terça-feira, 23 de junho de 2009

Cauby, o último menestrel, Peixoto

Eu assisti ao show do Cauby Peixoto, em São Paulo. As segundas, ele dá o tom da festa no tradicional Bar Brahma para fãs do Brasil inteiro. A voz está mais linda, se isto é possível de ser afirmado por uma leiga. Pareceu-me mais límpida, mais firme e mais sonora do que sempre. O gestual e o figurino são os mesmos. Mas, e a emoção!

Lembrei em muitos momentos do filósofo Cícero, no livro Saber Envelhecer seguido da Amizade , em que ele afirma que a idade pode nos deixar cada vez melhores , basta que pratiquemos as nossas capacidades com disciplina e afinco. É o caso do Cauby. Ele luta contra a velhice como alguém doente luta contra a doença. Com destemor e força.

O canto parece ser o segredo da longevidade do corpo seguido do aplauso caloroso e emocionado dos admiradores. Ao cantar o verso “chorei, chorei até sentir dó de mim”, a emoção embriagou os presentes. Senti naquele momento que o choro profundo do cantor e a Conceição são os bálsamos que o farão eterno em cada um de nós e depois de nós.

16.06.09

terça-feira, 19 de maio de 2009

Quem sabe da vida do meu amigo?



Ele parecia não ter mudado.
Apenas um pouco mais velho.
Não tive tempo para perguntas. O tempo foi curto.
Será que o mesmo era só na aparência?
Quanta coisa pode ter acontecido com o meu amigo em 22 anos?

A palavra doce e amiga pode ter faltado na hora necessária.
A saudade da família pode te-lo feito chorar.
A alegria de ter um trabalho do qual se sente útil.
As festas de largo da Bahia devem ter-lhe lavado a alma.
O cheiro da terra natal pode ter feito falta.
Os amigos deixados longe provocaram um vazio na alma?
Ou ele não teve tempo para estas coisas envolvido que estava com a sobrevivência física e moral?

O que ele sentiu quando ouvia apenas a sua respiração nas noites solitárias?
O que fez quando faltou dinheiro para pagar as contas do mês?
Quanta coisa meu amigo, quanta coisa!
Tudo isso e mais um pouco, ou mais que isso, ou menos um pouco pode ser mais que um jogo de palavras.
É a vida correndo a passos largos, ou a passos lentos por se tratar da Bahia?

Quem sabe da vida do meu amigo?
Apenas ele.

Ele a sua solidão.

13.04.09

segunda-feira, 27 de abril de 2009

As meninas

Elas viviam no limbo. Como nuvens ambulantes. Saíam à rua em grupo. Talvez, como proteção. Eram logo identificadas. As roupas justas e chamativas; decote profundo, calças apertadas, unhas vermelhas e compridas, maquiagem carregada e bijuterias reluzentes. Eram o oposto das moças de família. Falavam alto e rebolavam o bumbum. Nenhuma senhora da sociedade era amiga delas. Jamais! Imagine! Para cair na boca do povo. E depois que alguém caía para recuperar a honra e a dignidade era tarefa quase impossível. Elas saíam do casulo para fazer compras durante o dia. Precisavam se abastecer de alimentos, roupas de vestir e de cama e, principalmente, muita lingerie rendada e colorida. No caixa das lojas era a única hora da concretude.

À noite, retornavam para além dos olhares das mulheres distintas da cidade. Para o refúgio erótico, único lugar possível para homens insatisfeitos e corajosos darem vazão a libido contida dentro dos muros da conservadora cidade. Elas eram as meninas da zona. Batizada de Brasília, em minha terra.


quarta-feira, 11 de março de 2009

Catador de vida

Liguei a tevê e me deparei com a imagem de um homem, magro, puxando um carrinho de coleta de lixo, lomba acima. Notei que ele fazia um esforço imenso para vencer a subida. Ao mesmo tempo, em que dizia não entender o preconceito das pessoas em relação aos catadores de lixo. “Eu não sou catador de lixo, sou catador de coisas recicláveis, lixo é o que vai fora, o que não serve para nada. Assim, evito que as latas, papéis, vidros e plásticos sejam jogados na natureza”, ensinou o sábio juntador do lixo alheio. Fiquei pasma!
Certamente, ele aprendeu desde muito cedo, nas ruas da cidade, o valor das sobras, a perceber as possibilidades de aproveitamento das coisas descartáveis. Ele e o chão em que pisa são um e mesma coisa.

Talvez, sem saber, está fazendo o que Arthur Schopenhauer, conhecido entre nós, como o filósofo-pessimista, chamou de um esforço ético para ser feliz. Para ele, a essência da existência é a dor, o não-gozo. Ele defende que o homem é movido pela vontade, uma vontade sem finalidade, sem meta, um querer irracional e inconsciente. Portanto, um mal inerente à existência, eternamente insaciável. Viver é sofrer. Mas temos a obrigação de buscar momentos de felicidade, de cessação da dor, mesmo que sejam breves e fugazes, dizia o filósofo.

Será que Schopenhauer não sabia das coisas? Nem bem conseguimos algo e já temos mais uma infinidade de outros na lista. A busca é infinita e, nem sempre, conseguida, daí a dor, a frustração. A única forma de não sofrermos, seria eliminar a vontade pela não-vontade, pelo não-desejo, pelo silêncio e a serenidade, atitudes encontradas em seguidores de seitas conhecidas, como os budistas.

Mesmo não adepto da não-atitude, o catador persiste.Vai a busca dos momentos da fuga da dor, mas, forte o suficiente, para manter a esperança.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Campanha pelo Dia do Mecânico

Uma luzinha aparentemente insignificante acendeu no painel do carro. Na verdade, nunca havia reparado nela até então. O carro começou a perder força, tipo vou, mas só se for de arrasto. Nas ultrapassagens, só faltava gemer. Meu marido pediu-me para procurar no manual que luzinha era aquela. Virei o manual do avesso e nada! Não é possível! Como pode esta maldita luzinha ser tão importante, o carro vai parar. Dito e feito. Não andava, se arrastava. Paramos num posto de gasolina em Joinville e nos indicaram uma oficina próxima. O mecânico abriu o capô, olhou, olhou e disse que dessa luzinha ele não entendia e nos indicou outro especialista.

Andamos mais um pouco e entramos numa região de casas bem construídas, jardins floridos e calçadas de pedras feitas para durar. Pensei que uma oficina mecânica não poderia estar fincada nas entranhas de um bairro residencial como aquele. Estava. O povo alemão é fogo! Constrói a casa de moradia apoiada em altas colunas e, embaixo, instala o local de ofício.

Já era noite de uma sexta-feira. Estacionamos o carro com o coração na mão. E se este não descobrir o problema? Ele pediu para ouvir o motor, deu uma rápida olhada e mandou vir a peça. Em menos de meia hora estávamos novamente na BR 101 com o carro novo em folha. O mecânico nos salvou de passarmos a noite num posto até o dia amanhecer. Além de chegarmos atrasados à festinha de um ano do sobrinho. Um brinde ao mecânico de Joinville! Um brinde aos mecânicos do Brasil! Como é que ninguém instituiu ainda o Dia do Mecânico?

03.09.08

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Cafezinho com Kant

Eu estava numa lancheria no Mercado Público, em São Paulo, e assisti esta cena: um homem, de aproximadamente 35 anos, chega esbaforido para pagar dois cafezinhos que havia esquecido ao sair. Já se encontrava na rua quando lembrou da dívida de R$ 8,00. A atendente, em tom de brincadeira, disse: “já ia mandar a polícia atrás do senhor”, ao que ele respondeu: “é, mas eu é que não ia poder dormir esta noite”.

Imediatamente, a imagem de Immanuel Kant (1724-1804) me veio à cabeça. Pensei em duas coisas: Será que este rigor ético demonstrado pelo homem é fruto de um desenvolvimento da consciência, por conseguinte do “dever” apregoado pelo filósofo, ou seja, aquilo que eu devo fazer, aquilo que a minha consciência determina é o correto. Ou será que é conseqüência de um aprendizado moral inculcado por normas de condutas sociais?

Os dois casos são positivos, diria a maioria dos leitores. É claro, mas há diferenças básicas. Uma coisa é eu apagar a luz de uma peça em que não estou usando para economizar a conta no final do mês, outra é eu ter a consciência de que a economia de luz possibilita economia para mim, para o país e para o planeta. Através da minha consciência reflito sobre as várias fontes de energia e concluo que se eu não desperdiçar a energia estarei preservando e prolongando a vida no planeta. Seja em equipamentos no caso da água, de carvão mineral que não é renovável, ou do urânio que, além de não ser renovável, é altamente poluente. É uma decisão baseada no desenvolvimento interno da consciência.

É óbvio que num país em que nem as regras são cumpridas, muitas vezes, temos o direito de pensar que o filósofo alemão era um purista. Não podemos esquecer que Kant era um utópico. Acreditava no homem como ser capaz de solucionar os problemas da vida com o uso correto da razão.

Depois de presenciar a fome no mundo, as guerras, o holocausto ( no seu próprio país), as devastações do planeta, imagino se Kant ainda confiaria na razão humana. O que vocês acham?



26.11.08