segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A superação

A perfeição. Nada menos é o que eles buscam. A superação de si mesmo. Em força, em exercícios, em sintonia, em harmonia, em rapidez, em jogadas precisas, em tiro ao alvo e em beleza. Tudo vale para o reconhecimento público. Disciplina espartana, treinos em torno de 07 a 08 horas diárias, vida regrada, a separação da família, em muitos casos, e outros sacrifícios. Vale até a alteração física: braços e pernas com músculos acentuados, baixa estatura, ou ombros largos. Tudo, para vencer os limites pessoais e dos concorrentes. Tudo, para chegar ao pódio. De preferência, o lugar mais alto. Até, esquecer a dor.

A determinação, a vontade de vencer-se a cada dia são a marca desta espécie de criatura, lutadora por natureza. Algo muito forte os move. Algo sutil os diferencia. Poucos décimos, poucos centímetros, leves deslizes, imperceptíveis ao leigo. Entre o ouro, a prata e o bronze minúsculos traços fazem a diferença. Eles fazem parte da turma de eleitos que, desde muito cedo, descobriram o sonho e o perseguem, obstinadamente. Eles são a história do esporte.

25.08.08

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A primeira impressão é a que fica



Eu não conhecia Curitiba. Fiquei surpresa. A cidade recebe o visitante como uma moça formosa. Bem cuidada e educada. Uma aristocrata. Vanguardista e organizada, cuida de cada detalhe como uma dona-de-casa preocupada com o bem-estar da família e o bem-receber as visitas. Canteiros de amor-perfeito e de flores silvestres embelezam a cidade com uma delicadeza ímpar.

Sábia, herdou dos imigrantes europeus o gosto pela manutenção do antigo, forma de manter a singularidade do lugar. Em cada recanto percebe-se a beleza singela da menina que foi e os ares futuristas de cidade moderna e ousada.
Dizem que os seus moradores parecem distantes, um pouco frios. Não senti. Provavelmente, tenham percebido o quanto gostei do chão vermelho deles. Retribuíram-me o encanto.
Adorei! Curitiba. Recomendo a visita a quem aprecia o cheiro de história em cada casa, em cada calçada de pedra, em cada muro, em cada árvore. Tudo é preservado. Novo e velho de mãos dadas. Capricho, a flor da pele. Como uma boa anfitriã.

29.08.08

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

A necessidade do silêncio



Quando o meu marido começou com a idéia de comprar um sítio para dar continuidade aos sonhos de vida, após a aposentadoria, fui logo dizendo: o sonho é teu, eu não garanto que vou querer ficar lá, preciso de uma base em Pelotas- RS, para ver gente, civilização e movimento.

Para a minha surpresa, AMO o sítio. O silêncio, a paz, o ar, o verde das árvores, a rusticidade da casa, apanhar laranja do pé para comer, ou apenas ficar admirando-as. Ah! e as bergamotas, as que na minha terra eram chamadas de vergamotas com V mesmo. Tudo me encanta.
Não sei qual foi o momento em que comecei a apreciar o silêncio. Talvez, com o início do curso de Filosofia, em que a tranqüilidade e a solidão eram essenciais para a leitura e compreensão dos textos. Hoje, me sinto confortável com ele. As atividades mais preciosas para mim dependem dele: ler e escrever.

Isto é paradoxal, tratando-se de uma pessoa amedrontada, até então, com a “possibilidade” de ficar só. Não sei se é a idade-da-maturidade, ou se é o construir-se leitora/escritora que a cada dia, sinto mais prazer em ficar comigo mesma. Tenho a paz e o sossego necessários para realizar pesquisas, colocar em ordem os pensamentos, fermentar (dentro de mim) as crônicas e, principalmente, sentir a pulsação da vida.

No corre-corre diário, esta calma é impossível. Mal temos tempo de suprir as necessidades da existência, que dirá apreciarmos o pôr-do-sol, a beleza das nuances dos verdes das plantas, o canto dos pássaros e observar as galinhas ciscando no quintal. Alguém pode achar estas coisas simples demais. Pode ser.

31.07.08

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A Idade da Mulher

Lucília Almeida Prado, escritora de livros infanto-juvenil, era a entrevistada do jornalista Roberto D’ávila do programa Conexão Nacional – TV Cultura. Filha de um barão do café do interior paulista, a escritora no auge dos 84 anos, que ninguém jamais diria, deu vida a uma linda passagem do livro Crime e Castigo, de Dostoiéwski, em que ele descreve a mãe do personagem central, Raskólhnikov, Pulkhiéria Alieksandrovna. Dostoiéwski destaca que ela ainda conservava vestígios de sua passada formosura e que aparentava menos idade do que aquela que realmente tinha. Para ele, isto só acontece com as mulheres que conservam a limpidez da alma, a frescura de impressões e o honesto e puro fervor do coração.
Este é o retrato de Lucília. O brilho nos olhos ao falar de seus livros, ao relatar as histórias dos imigrantes japoneses trabalhando nas lavouras de café de seu pai de sol a sol. O vigor e, ao mesmo tempo, a leveza de espírito e a alegria, em tudo me lembrou a Pulkhiéria, de Dostoiéwski.

Deve ser uma experiência deliciosa conhecer a sua obra literária.
30.06.08

terça-feira, 23 de setembro de 2008

A enorme chaga

Leio que 925 milhões de pessoas passam fome no mundo hoje. Este número pulou de 850 para 925 em 2007 por causa da disparada dos preços dos alimentos. A dramática informação foi feita pelo diretor da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Jacques Diouf.

Segundo o diretor, é preciso investir US$ 30 bilhões ao ano para duplicar a produção de alimentos e acabar com a fome. “Este valor é modesto se comparado aos gastos com armamentos que chega a US$ 1,2 trilhão”. Em 2050, serão 9 bilhões de bocas famintas no mundo.

A informação me deixou com um gosto amargo na boca. Uma sensação de fracasso e medo tomou conta de mim. Não é impossível para quem faz mais de três refeições por dia, imaginar o vazio no estômago e na alma. A situação é dramática para ser, digamos, suave. É cruel. Atenção alimentados do mundo. Unimo-nos!

19.09.08

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

A cidade do interior no coração

Eu venho de uma terra em que a gente conhecia as pessoas pelo nome e sobrenome. Sabia-se quem era pai de quem e onde moravam. Os programas eram os mesmos para a cidade inteira. Missa aos domingos. À tarde, passeio na praça central, até à hora em que o cinema anunciava o início da sessão com uma música característica. Sábado à noite, os jovens encontravam-se na mesma boate. Sabia-se tudo de todos. A situação financeira, onde trabalhavam, quem namorava quem, quem brigou com quem e tudo o mais.
Os jovens estudavam no Ginásio e na escola Normal (quem desejava seguir o magistério). A rivalidade dava-se no desfile de 07 de setembro. Quase sempre, o Ginásio ganhava com a melhor banda e o Normal pelos mais bonitos e caprichados carros alegóricos. A cidade parava. Ah! Os mais abastados freqüentavam o clube social. Eram tempos calmos e pessoais. Tempo em que as crianças brincavam na rua e não tinham medo de quem passava. Tempo em que a palavra valia mais que um papel. Tempo, em que se tinha tempo. Para os amigos e para as visitas. Tempo, sem internet, fax, celular, computador e scanner.
Eu saí muito jovem de minha terra. Direto para Porto Alegre. Morei em Salvador e Recife, mas jamais perdi a “cidade do interior” eternizada dentro de mim. Adoro saber o nome das pessoas, saber que a dona da ferragem já é avó, que a filha da vizinha vai casar e cumprimentar os conhecidos no supermercado. Sinto-me em Soledade. Sinto-me em casa.


23.08.08