Liguei a tevê e me deparei com a imagem de um homem, magro, puxando um carrinho de coleta de lixo, lomba acima. Notei que ele fazia um esforço imenso para vencer a subida. Ao mesmo tempo, em que dizia não entender o preconceito das pessoas em relação aos catadores de lixo. “Eu não sou catador de lixo, sou catador de coisas recicláveis, lixo é o que vai fora, o que não serve para nada. Assim, evito que as latas, papéis, vidros e plásticos sejam jogados na natureza”, ensinou o sábio juntador do lixo alheio. Fiquei pasma!
Certamente, ele aprendeu desde muito cedo, nas ruas da cidade, o valor das sobras, a perceber as possibilidades de aproveitamento das coisas descartáveis. Ele e o chão em que pisa são um e mesma coisa.
Talvez, sem saber, está fazendo o que Arthur Schopenhauer, conhecido entre nós, como o filósofo-pessimista, chamou de um esforço ético para ser feliz. Para ele, a essência da existência é a dor, o não-gozo. Ele defende que o homem é movido pela vontade, uma vontade sem finalidade, sem meta, um querer irracional e inconsciente. Portanto, um mal inerente à existência, eternamente insaciável. Viver é sofrer. Mas temos a obrigação de buscar momentos de felicidade, de cessação da dor, mesmo que sejam breves e fugazes, dizia o filósofo.
Será que Schopenhauer não sabia das coisas? Nem bem conseguimos algo e já temos mais uma infinidade de outros na lista. A busca é infinita e, nem sempre, conseguida, daí a dor, a frustração. A única forma de não sofrermos, seria eliminar a vontade pela não-vontade, pelo não-desejo, pelo silêncio e a serenidade, atitudes encontradas em seguidores de seitas conhecidas, como os budistas.
Mesmo não adepto da não-atitude, o catador persiste.Vai a busca dos momentos da fuga da dor, mas, forte o suficiente, para manter a esperança.
quarta-feira, 11 de março de 2009
Assinar:
Postagens (Atom)